
Fake News, palavra em inglês para notícia falsa, é algo que existe desde que o mundo é mundo. Na política, esse termo se popularizou no ano de 2017, após o presidente americano Donald Trump utilizá-lo para se referir a CNN. O termo que virou uma febre na direita americana, obviamente foi imediatamente importado pela direita brasileira, que passou a utilizá-lo para se referir a notícias falsas produzidas pela esquerda ou que saíssem na mídia. O termo que diversas vezes foi de fato utilizado com razão para corrigir erros da imprensa, terminou sendo totalmente banalizado pela militância bolsolavista, que transformou o termo em um rótulo taxativo para fins de demonização de tudo aquilo que saia na imprensa e que de alguma forma desagrade o presidente, o guru Sidi Muhammad Ibrahim Olavo de Carvalho ou suas narrativas no geral. Um exemplo disso foi quando o jornal Folha de SP noticiou no dia 23 de abril de 2020 a saída do ministro Sérgio Moro um dia antes dela ser concretizada. Qual foi a reação dos minions? Demonizar o jornal, dizer que estavam reproduzindo fake News e que Moro seguia no cargo. Resultado: Moro saiu no dia seguinte, comprovando que o jornal estava correto.
Apesar do suposto combate às Fake News por parte dos bolsolavistas, esse discurso não é condizente com as suas práticas. Como percebemos desde que o presidente se elegeu, o uso das fake news como método é algo que vem se intensificando, principalmente por conta do uso de robôs em redes sociais, blogueiros de crachá, sites chapa branca (Terça Livre e Conexão Política) etc. Há toda uma rede de blogueiros bolsonaristas dedicados única e exclusivamente a difamar adversários políticos, rede essa muito bem exposta pelo jornalista da Revista Crusoé Felipe Moura Brasil e pela deputada federal Joice Hasselmann (PSL/SP).
Durante essa pandemia do covid19 e o claro desgaste interno do governo Bolsonaro após perder 3 ministros em pouco mais de 1 mês (incluindo o “superministro” Sérgio Moro), as fake news explodiram mais do que nunca, temos ao menos uma notícia falsa por dia sendo produzida e disseminada nas redes bolsonaristas, notícias que vão desde teorias sobre a esposa do ex-ministro Sérgio Moro até negacionismos quanto a gravidade da doença e sobre caixões vazios.
Não tenho nesse artigo o propósito de falar sobre a quarentena, já dissertei sobre em um outro artigo publicado no Instituto Liberal. Pretendo tratar aqui de 3 das principais (e mais perigosas) notícias falsas difundidas nas redes bolsonaristas nessas últimas semanas.
- Os governadores que apoiam vs os que não apoiam o governo

Hoje me deparei com a seguinte imagem, comparando os estados com governadores que apoiam Bolsonaro vs estados que não apoiam, que visavam demonstrar que os estados que apoiam estão tendo resultados melhores do que o resto.
Como sergipano, eu logo de cara já me deparo com a farsa. Vejam Sergipe, está no verde, mas o governador Belivaldo Chagas não apoia nem nunca apoiou o presidente Bolsonaro, ao contrário, foi o candidato apoiado por Haddad/Lula em 2018, sua vice Eliane Aquino é do PT e viúva do ex-governador Marcelo Deda e o agrupamento que está no poder aqui no estado desde 2006 é um agrupamento formado por PT/PSD/PCdoB/PMDB, ou seja, um agrupamento de esquerda e Sergipe é um dos poucos estados em que PSD e PMDB não romperam com o PT. Belivaldo antes disso já tinha sido vice do finado Marcelo Deda (PT) e do ex-governador Jackson Barreto (PMDB), defendido publicamente por Lula como o único pemedebista que não era “traidor”, Jackson esse que chegou a ir até mesmo a vigília de Lula na porta da sua prisão em Curitiba.
Apesar do partido, Belivaldo é um governador de esquerda, socialista e anti-Bolsonaro, aliado do PT e do PCdoB aqui no estado.
E ao contrário do que pensam, não, Sergipe não é um bom exemplo de combate ao vírus e esses números ainda por cima estão incorretos. Sergipe tem 2800 casos e 50 mortes, muitos podem achar que isso é pouco, mas esquecem que somos o menor estado do Brasil. Nossa situação só piora, éramos o 2º estado com menos casos até algumas semanas atrás, hoje temos pelo menos 10 estados em situação melhor do que a nossa (com menos casos, menos mortes e sendo estados bem maiores).
Eu não possuo propriedade para falar da situação de todos os estados dessa imagem, mas só batendo o olho, vemos algumas situações bem interessantes.
Vamos para Santa Catarina, o governador Moisés é citado como um dos que melhor lidam com a crise e que apoia o Bolsonaro, mas seria isso verdade? Pois bem, o governador Moisés e o presidente estão rompidos publicamente desde o ano passado, Moisés faz parte da ala do PSL que não está com o presidente, inclusive os próprios bolsonaristas pedem o seu impeachment.
Rio Grande do Sul é citado como um estado isentão, mas por quê? O Eduardo Leite tomou uma postura clara e ferrenha contra o Bolsonaro, similar ao que Dória e Witzel estão fazendo, por que eles são inimigos e o Leite é só isentão? Tá meio óbvio que quando a gestão no combate a pandemia é boa, fica feio para os bolsonaristas assumirem que esse governador é “inimigo”, afinal, ninguém quer assumir que o inimigo é mais competente que o seu presidente, então preferem empurrá-lo como alguém neutro para amenizar a situação.
Goiás é a mesma situação de SP e RJ, o Caiado rompeu publicamente com o Bolsonaro, mas é empurrado como neutro por quê? Porque é um estado que demonstra bons números e pega mal dizer que um estado que sabe lidar bem com a crise é inimigo do seu presidente.
Colocar Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantis como apoiadores é o cúmulo da desonestidade intelectual, os governadores desses 3 estados assinaram a carta contra o Bolsonaro e tem tomado uma postura bem crítica em relação ao presidente nessa pandemia. O governador do Espírito Santo não é neutro, ele também está contra o presidente, pelo contrário, Renato Casagrande é do PSB, e fez coligação até com o PCdoB para se eleger em 2018.
O caso mais engraçado dessa lista é sem dúvida nenhuma o governador da Paraíba, o socialista João Azevedo, como neutro. João Azevedo não só era filiado ao PSB até o ano passado como é um ferrenho defensor do ex-presidente (e devidamente condenado) Lula.
O que podemos ver com essa imagem não é apenas que os bolsonaristas são mentirosos compulsórios, mas a fórmula utilizada para mentir. Simplesmente pegam aleatoriamente os estados que (supostamente) vem demonstrando bons resultados em relação ao combate ao vírus e pintam de verde ou amarelo, enquanto pegam todos aqueles estados que vem tendo um péssimo resultado e pintam de vermelho, por mais que os governadores da maior parte dos estados tenham um posicionamento similar em relação ao presidente. Eles sabem que dificilmente a massa de estados como São Paulo e Rio de Janeiro irão conhecer ou conferir a realidade desses estados menores. Sergipe mesmo tem apenas 2 milhões de habitantes, os outros 198 milhões de brasileiros não vão conhecer a fundo a realidade política sergipana, então nem vão suspeitar que o sujeito que os bolsonaristas pintam como “apoiador do Bolsonaro” é na verdade um petista, socialista, linha auxiliar do Lula e que combate o empreendedorismo aqui no estado por exemplo, ou até mesmo saber a realidade de outros estados menores como Santa Catarina, Tocantins, Espírito Santo e similares. E claro, como sabem que as pessoas também não vão conferir os números é fácil colocar números falsos ou empurrar estados pequenos como se o número deles fosse baixo (quando na verdade é baixo por conta da quantidade de habitantes).
Também é interessante que após o presidente perder o apoio de todos os governadores “conservadores” que possuíamos, os minions passaram a se agarrar até mesmo em um petista como Belivaldo Chagas para sustentar sua narrativa.
Tudo isso é simplesmente um cherry picking seletivo e mentiroso com o propósito de enganar pessoas nas redes sociais. Agora, eu até entendo o paulista que compartilha isso, duvido muito que ele conheça a realidade política fora do seu estado, mas vi gente daqui mesmo de Sergipe, que sabem que Belivaldo não é bolsonarista, compartilhando essa imagem. Não é mais ignorância, é desonestidade mesmo (ultimamente requisito necessário para passar pano pra tudo isso que está acontecendo).
Observação: esse texto não é um apoio a nenhum dos governadores citados, pelo contrário, defendo há mais de 1 ano a cassação da chapa Belivaldo/Eliane Aquino, é apenas um compromisso com a verdade.
2- Os caixões vazios
Outra fake news que repercutiu foi a dos caixões vazios. Segundo a teoria, caixões em Manaus eram enterrados sem nenhum corpo dentro ou com pedras, o intuito era provocar o pânico na sociedade e enganá-los quanto a gravidade da doença. Obviamente essa teoria era falsa e qualquer pessoa com o mínimo de esclarecimento sabia disso, mesmo assim, ela foi amplamente compartilhada e difundida nas redes bolsolavistas, gerando assim milhares de compartilhamentos, a hashtag #globolixo no em alta do twitter (não sabia que a Globo trabalhava com o aluguel de caixões) e diversas pessoas mais simples e com baixa escolaridade sendo enganadas nos grupos de whatsapp. Há inclusive algumas perguntas a serem feitas, será que essas pessoas sabem o custo individual por caixão? Qual seria o retorno de fraudar algo desse tipo? Perguntas que obviamente não serão respondidas
A fake news foi imediatamente desmentida, mas o estrago já estava feito e mesmo com a verdade escancarada em vossas caras, continuaram difundindo a mentira. Por quê? Porque o pânico causado pelas fake news é o que eles precisam para a narrativa governista (é só uma gripezinha, estão sabotando o “mito”) se manter viva. Não importam quantas pessoas morrerão, não importam quantos empregos serão destruídos (morto não emprega ninguém), quantas serão aterrorizadas, o que importa é a prevalência de sua narrativa política.
3. O documentário Plandemic
Essa é disparada uma das mais perigosas fake news difundida pelos bolsolavistas. Essa fake news surge na verdade na direita norte-america, trata-se de um documentário sensacionalista criado por uma ex-médica chamada Judy Mikovits. Mas quem é Judy Mikovits e do que se trata esse documentário? Pois bem, Judy é uma ex-médica pseudo-cientista, ela se notabilizou por ser uma militante anti-vacina e tem na sua ficha criminal até mesmo uma prisão em 2011 por roubo de computadores. O documentário é repleto de mentiras do início ao fim, chega a alegar que vacinas contra a gripe na verdade estão infectadas com o vírus, que o uso de máscaras expõe as pessoas ao risco de desenvolver o vírus (e que é a responsável pela sua ativação) e que o vírus está presente em todos os animais, além de outras alegações pseudocientíficas, como a de que o distanciamento social na verdade enfraqueceria seu sistema imunológico e facilitaria a contaminação por meio do vírus.
A revista Science decidiu fazer uma fact checking acerca do documentário e relatando quem de fato é a Judy, alegando que ela já teria publicado artigos fraudulentos na Science no passado, artigos esses que foram devidamente removidos e mesmo assim a autora se recusou a se retratar. No desmascaramento, a Science destrincha alguns dos principais pontos do documentário, demonstrando que Judy jamais foi uma cientista promissora (com apenas 40 artigos publicados e 1 deles fraudado), que o vírus não é oriundo da vacina da gripe e obviamente não é ativado por meio de máscaras.
O documentário chegou a ser banido do youtube, mas imediatamente foi upado em sites paralelos como o bitchute, chegando a ser assistido por milhões de pessoas. No Brasil o documentário foi traduzido por um grupo chamado “Tradutores patriotas”, um grupo de tradutores independentes apoiadores do governo Bolsonaro e seguidores do guru Olavo de Carvalho.
Documentários como esse são extremamente perigosos, pessoas comuns podem acabar acreditando e se expondo a doença achando que não haverá nenhum risco, e quem arcará com isso?
Conclusão
Como podemos observar, essas fake news são bastante perigosas e milhares de pessoas podem ter problemas graves ou até mesmo morrer por conta desse tipo de mentira, mas a trupe bolsolavista que espalha essas inverdades se importa? Evidente que não, a mentira é apenas um método para essas pessoas, elas se pautam em uma defesa cega ao presidente e seu guru onde vigora o famoso “nós contra eles”, onde só existe um lado certo e vale absolutamente tudo, até mesmo jogar vidas no lixo para manter sua narrativa política viva. Não devemos nos enganar, não se trata de ignorância ou ingenuidade mas sim desonestidade e mau-caratismo (ultimamente requisitos necessários para defender cegamente esse governo) e tais pessoas precisam ser devidamente desmascaradas, expostas e jogadas na lata de lixo da história.