Hoje é véspera de São João, dia de comemorar com a família, ouvir uma boa música, comer espiga de milho e é claro, soltar fogos. Fogos, os tão polêmicos fogos!
Amados por muitos e odiados por outros, os fogos fazem parte da cultura nordestina há muitos anos. É muito comum presenciarmos jovens soltando bombinhas, acendendo seus artefatos em uma fogueira e é claro, a tradicional cena de um pai ensinando seu filho desde cedo a acender e soltar seus fogos. Como podemos perceber, no Nordeste as pessoas soltam fogos desde pequenas, vão das famosas “chuvinhas” e “vulcãozinho” até os tão difamados rojões, foguetes e afins.
Criança soltando fogos no interior de Laranjeiras/SE
Mesmo sendo algo tão tradicional em nossa região, os fogos correm sério perigo, que é a mentalidade autoritária de burocratas e engenheiros sociais. Passam-se anos e em todo mês de junho voltamos à clássica discussão da proibição dos fogos. Os proibicionistas inventam inúmeras desculpas para justificar o seu totalitarismo, dentre elas temos sempre a famosa defesa da segurança, que o Estado deve proibir os fogos para nos proteger de nós mesmos, para impedir que nos queimemos durante a nossa diversão e, sempre, citando casos isolados de pessoa A ou Y que se queimou durante o ato. Tal justificativa não se diferencia muito da que os intervencionistas utilizaram e utilizam até hoje para justificar uma intervenção militar, da que os nazistas utilizaram para “proteger” o povo germânico e a de que os socialistas utilizam para “nos proteger” do capitalismo selvagem e desenfreado. A nomenclatura varia, mas a mentalidade e o raciocínio são os mesmos.
Há também aqueles que afirmam defender a proibição dos fogos para proteger os animais, pois seriam eles vítimas constantes do barulho provocado pelos fogos, mas será mesmo que eles se importam com isso? Ou seriam eles, os donos, os incomodados? Aqui em Aracaju chegaram até mesmo a fazer um abaixo-assinado online para proibir os fogos de artifício, mas qual seria o efeito líquido de tal proibição? E qual o custo?
Todas essas alegações sofrem de um grave problema estatístico, e nisso ficam algumas dúvidas, como: quantas pessoas soltam fogos e quantas se machucam por isso? Não seria uma função dos pais, ao invés do Estado, de cuidar dos filhos que soltam fogos? Quantos animais domésticos existem e quantos possuem medo de fogos? Dos que possuem medo de fogos, quantos morrem ou passam a ter algum problema por isso? Nenhuma dessas perguntas é respondida, são apenas alegações generalistas, vazias sem quaisquer devidas referências. E pelo que se percebe, todos casos são exceções, e a exceção não anula a regra.
Outra coisa também é ignorada (propositalmente ou não) por aqueles que defendem a proibição, a questão econômica. Muitas pessoas dependem do comércio de fogos, que é um mercado extremamente lucrativo e que emprega milhares de pessoas. Em Sergipe, por exemplo, somos conhecidos por ter a maior guerra de Buscapé e por ter a cidade do Barco de Fogo, o interior de Estância, que reúne milhares de pessoas durante o São João para presenciar o Barco de Fogo e a famosa guerra de Buscapé. Ou seja, é uma cidade pequena que tem como atividade mais lucrativa o São João, e justamente por causa dos fogos. Seria justo destruir toda a economia de um município em nome da mentalidade coletivista e autoritária?
Barraca de fogos
Maior guerra de Buscapé do país e barco de fogo no interior de Estância/SE
Os proibicionistas passam, então, a defender a violação sistemática das nossas liberdades individuais se baseando na exceção, tudo isso por uma visão infantil e paternalista de que o Estado deve os proteger e proibir tudo aquilo que eles não gostam. E mais que isso, é uma tentativa clara de destruir uma tradição nordestina. Aqueles que se dizem defensores das minorias e dos menos favorecidos, unem-se para denegrir e acabar com a cultura de uma das regiões que mais carece de boas condições, destruindo a identidade de um povo! E esse é só o primeiro passo, como dizia o finado economista Friedrich Hayek: “A liberdade não se perde de uma vez, mas em fatias, como se corta um salame”.
Friedrich August Von Hayek (1899 – 1992)